Junta de Freguesia de Vila Marim Junta de Freguesia de Vila Marim

Arnal

Arnal, terra de encanto e de gente recatada, é a aldeia mais distante da sede de freguesia. Escondida, dentro do Parque Natural do Alvão, desde cedo se tornou uma das suas pérolas mais preservadas, quer pela sua riqueza em tradições e lendas, como pelas suas magnificas paisagens e tesouros naturais.


Os seus habitantes viveram em tempos da exploração do minério e da exploração florestal, actualmente subsistem maioritáriamente da agricultura e pastorícia.


Esta aldeia protagoniza uma das mais lindas lendas do distrito de Vila Real, a do Calhau Encantado, ou Penedo Negro, como alusão ao maciço granitico que junto à aldeia, devota de Nossa Senhora do Rosário, se ergue de forma muito imponente.


Reza esta lenda, citando Joaquim Alves Ferreira no seu livro "Lendas e Contos Infantis" (1999), que: "Lá bem no alto da serra, junto da povoação de Arnal, ergue-se um descomunal fragão, chamado Penedo Negro e também A Capela, por ter um recorte em forma de portão de igreja, forrado de musgo verde e macio.


Os pastores e os viandantes olhavam-no com curiosidade e receio e passavam lá com o credo na boca, pois havia quem dissesse que, à meia noite, lá dentro, se ouvia um cantar muito triste e arrastado de mulher que, no entanto, ninguém conseguia ver.


Mas, certa madrugada, ainda com estrelas no céu, passou por lá um aldeão, recoveiro de oficio, que ia à Bila fazer compras, como de costume.


Mal entrou nas portas da Bila, tratou de mercar a bola de quatro cantos, não fosse o pão acabar cedo, pois era dia de feira. Só depois iniciou as outras voltas. Apreçou, aqui e ali, a mercadoria e fez as compras para si e para os vizinhos.


Enfiou o alforje no grosso varapau de marmeleiro apoiado sobre o ombro e pôs-se a caminho de casa, já com o sol a baixar para trás da serra.


E, como não tinha comido nada, pois comer na estalagem é um roubo, e a jornada era longa e penosa, sentiu uma vontade irresistível de comer. Mas comer o quê, se só levava a bola de quatro cantos e a Senhora lhe recomendara tanto que a levasse bem inteirinha? E depois ia perder toda aquela riqueza que a Senhora prometera dar-lhe? Pôs de parte aquela ideia maluca e continuou a caminhar.


Mas um pouco a cima de Agarez, avistou uma fonte gorgolejante que o convidava a matar a sede e a descansar.


E, como à fome e à sede ninguém resiste, resolveu parar, pensando lá com os seus botões: 

- É certo que prometi à Senhora levar a bola inteira e eu não sou homem de faltar à palavra. Mas, como diz o outro, a fome não tem lei. Vou comer só um canto e levo-lhe os outros três. A Senhora pareceu-me tão boazinha... há-de compreender e perdoar.


E, se bem o pensou, melhor o fez. Sentou-se à beira da fonte, pôs o alforje no chão, comeu o canto da bola e bebeu uma tarraçada de água fresca. Depois, já reconfortado, retomou a subida da encosta.


 


 

 


E justamente quando ladeava o esfíngico penedo, ouviu um ruído surdo semelhante ao ranger de gonzos de pesado portão.


Com os cabelos eriçados, olhou para o sítio donde viera o ruído estranho e deu com os olhos numa Senhora muito linda, de sorriso triste mas encantador, como nunca tinha visto, que lhe disse com voz meiga:


- Não tenhas medo e presta bem atenção ao que vou dizer-te. Eu sou uma moura encantada e tenho tanto oiro que não há balanças que o possam pesar.


Pois todo este oiro será teu e eu própria irei para tua casa e casarei contigo, se conseguires desencantar-me. Para que isso aconteça, traz-me da Bila uma bola de quatro cantos. Mas toma bem sentido: não a "encertes" por nada deste mundo; se não, dobras-me o encanto.


Dito isto, desapareceu no interior do Penedo Negro e a porta voltou a fechar-se como se abriu.


O bom recoveiro, muito surpreendido com aquela inesperada aparição, retomou a jornada, serra abaixo, sempre a repetir as palavras da linda Senhora que não lhe saía do pensamento.


Ao chegar junto do Penedo Negro, bateu com a ponta do varapau. A porta abriu-se rapidamente e a Senhora reapareceu, mas agora com o semblante carregado, e disse-lhe com ar severo:

Em cavalo de três pernas, 

Contigo não posso ir. 

Fecha-te, porta de pedra, 

Para nunca mais te abrir.


E desapareceu, enquanto o Diabo esfrega um olho, atrás da porta de pedra, para sempre.


O pobre do homem, com os três cantos da bola na mão e o alforje das compras ao ombro, partiu, desalentado, para a sua aldeia, onde passou o resto da existência, a lamentar a tentação de comer da bola de quatro cantos, e a calcorrear os caminhos da serra para ganhar a vida.


E a Senhora linda lá continua encantada, com os seus tesouros fabulosos, no Penedo Negro, a que os povos da serra, por essa razão, também chamam Calhau do Encanto.


Esta aldeia é o termino de um dos mais belos percursos pedestres referenciados, que os amantes da natureza e da paisagem percorrem regularmente. Foi um importante centro de povoação em tempos anteriores, albergando uma das poucas escolas da freguesesia.


Hoje em dia, para além da sua paisagem e seus moínhos, são ponto de visita o museu de artes artesanais e a escola ecológica (antiga casa florestal).


  • Categoria:Património

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